terça-feira, 12 de maio de 2015

Por causa de Cristo e do Evangelho
Por causa de Cristo e do Evangelho: com estas palavras pode-se resumir a vida de Roger Schutz Marsauche, irmão Roger, que nascia há um século – a 12 de Maio de 1915 – para morrer, com noventa anos, assassinado por uma pessoa desequilibrada durante a oração da noite a 16 de Agosto de 2005. Figura frágil de rosto luminoso, o pastor protestante suíço escolheu-as para o início da regra (La règle de Taizé) iniciada no fim de 1952 e depois completada na solidão e no silêncio de um longo retiro durante aquele inverno: «Irmão, se te submeteres a uma regra comum, só o podes fazer por causa de Cristo e do Evangelho. O teu louvor e o teu serviço estão já integrados numa comunidade fraterna, ela mesma incorporada na Igreja». Palavras simples, inspiradas no evangelho de Marcos (10, 29), que permanecem no coração de um dos testemunhos cristãos mais significativos do século XX.
 
Taizé é uma aldeia com poucas casas ao redor de uma antiga igrejinha românica, no topo de uma colina da Borgonha a poucos quilómetros de Cluny, e ali o pastor de 25 anos chegou de bicicleta no dia 20 de Agosto de 1940 – festa de são Bernardo e data de origem da comunidade – numa França então dividida e dilacerada pelo conflito que devastava o continente. Outra tragédia bélica deixara um traço profundo na avó, e desta idosa amadíssima que conhecera os horrores da primeira guerra mundial a criança tirou duas convicções: que é preciso iniciar em si mesmo a viver a reconciliação e a certeza de que a paz na Europa passa necessariamente pela reconciliação dos cristãos entre si. Assim Roger iniciou a acolher todos, judeus perseguidos em primeiro lugar, prisioneiros alemães e pequenos órfãos depois do fim do conflito.
 
Para responder às guerras nasceu também um dos símbolos da comunidade, a grande igreja da Reconciliação construída em conjunto por franceses e alemães porque a pequena igreja românica já não era suficiente para os jovens que a partir do final dos anos cinquenta começaram a chegar de todas as partes para se encontrar e rezar. Por sua vez, de Taizé alguns irmãos da comunidade iniciaram discretamente a visitar os cristãos sufocados pela opressão dos regimes comunistas na Europa central e oriental. Consolidaram-se assim vínculos duradouros e uma comunhão que depressa ultrapassaram os limites confessionais e os confins europeus. Assim na original comunidade monástica, nascida no protestantismo mas com um claríssimo perfil ecuménico, no final dos anos sessenta iniciaram a entrar muitos católicos, entre os quais Alois Löser, hoje sucessor do irmão Roger.
 
Já em Julho de 1941 o jovem pastor encontrou-se com Paul Couturier e Maurice Villain, dois sacerdotes católicos pioneiros do ecumenismo, e o encontro evocou nele o respeito pelo mistério da fé, independentemente da confissão: «Esta vontade de atenção – escreveu – serve-me no presente. Penso que hoje compreendi a partir de dentro a posição católica romana destes sacerdotes. Os dois entenderam a minha preocupação: a indiferença dos cristãos diante das nossas divisões». Desta inquietação nasceu a comunidade de Taizé, para reconciliar em si e na vida de cada dia as separações, forma realizada de ecumenismo, reconhecida nos anos por Roma e pelos principais responsáveis das Igrejas e das confissões cristãs. E que se revelou hoje um dos testemunhos mais eficazes e atraentes de Cristo e do Evangelho. g.m.v.